#33InfânciaArteArtes Visuais

O balé fotográfico de Tony Camargo

Tal qual uma criança, Tony Camargo enche-se de apetrechos divertidos, mas para conceber uma espécie de balé fotográfico histérico e nonsense. Ou seria um “teatro-pop-construtivista-do-absurdo-à-la-Alfred-Jarry-shaped photograph pós-Oiticica Peter Halley-inspired”?

Independentemente de nossas escolhas conceituais, de como iremos abordar a obra desse artista, o efeito simbólico está jogado como num belíssimo lance de dados: os degradês, as bolas de aniversário, as capas que vestem o artista e os baldes – cuidadosamente escolhidos para que tudo fique mais fauvista, talvez novamente compositivo, erudito, conceitual e multirreferente, escapando da aleatoriedade inicial do lance de dados. Apesar do grande senso de desordem que paira nessa cena festiva, que parece saída de uma tarde de brincadeiras de sábado ou domingo, a precisão do design é evidente no acabamento dessas obras. O tratamento digital dos degradês, o corte dos formatos não regulares dos trabalhos – há um grande apuro técnico e industrial que subverte a aparente infantilidade narrativa “dentro” da imagem. Talvez sejam sinais de cinismo do artista com relação a esse caos narrativo forjado – construído para nós, a plateia.

Originalmente publicado na edição Infância

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