As construções antigas me despertam grande interesse desde criança. Esse fascínio foi o responsável por me fazer cursar Arquitetura e, anos mais tarde, por me tornar antiquário. 

Lembro bem que, em minhas andanças por São Paulo, quando me dava ao luxo de observar o patrimônio material da cidade, as peças da Casa Conrado sempre me causavam impacto e admiração. Famoso por ter sido o primeiro ateliê de vidros do Brasil, a Conrado retornou à minha vida quando comecei a buscar um imóvel na Barra Funda, há dois anos. Logo de cara, como em um lembrete da memória, o primeiro espaço que visitei foi um galpão lindo, com resquícios dos vitrais produzidos. Era ali, informara-me o corretor, que funcionara a fábrica da então Casa Conrado. 

O ateliê nasceu em 1889, com a vinda do imigrante alemão Conrado Sorgenicht ao Brasil. Vítima de um reumatismo desenvolvido após lutar na Guerra Franco-Prussiana, o soldado apostou que o calor dos trópicos lhe seria benéfico para a saúde, assim como nas possibilidades de um novo trabalho. Apesar do DNA alemão, a Conrado desenvolveu uma indenidade muito brasileira, seja no tema dos vitrais, seja na escolha dos artistas contratados ou convidados para ilustrá-los.

A lista de obras produzidas e presentes no país exemplifica sua relevância cultural. No estado de São Paulo, podemos encontrar vitrais de extrema importância histórica na Catedral da Sé, no Teatro Municipal e na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Bem como em Belo Horizonte, na Catedral Metropolitana, em Blumenau, na Igreja Luterana, ou, ainda, nas termas de Poços de Caldas. 

A difusão do Modernismo propiciou o declínio da Casa Conrado. Apesar das dificuldades, os descendentes do fundador mantêm hoje uma oficina menor, voltada para o restauro das obras deixadas pelo antepassado alemão.